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sexta-feira, setembro 15, 2006


Ione Vieira, a jornalista

que desafiou a ditadura

Em 1974, durante o governo de Ernesto Geisel e sob uma severa censura à imprensa, Ione Vieira, promoveu um debate entre os candidatos ao Senado, Paulo Brossard, do MDB, e Nestor Jost, da Arena. O debate, transmitido pela TV Gaúcha, hoje RBS/TV, teve enorme repercussão na imprensa nacional e nos meios políticos, marcando época na redemocratização do País.

Aqui, um pouco daquela história:

No início da redemocratização do País, mas ainda sob o governo militar e censura de imprensa, tu organizaste um debate entre candidatos... Como foi esse episódio, foi o primeiro debate no período pós-revolução?

Sim, foi o primeiro debate e eu vejo hoje como um ato de muita coragem porque, embora os colegas participassem das decisões, as negociações com Governo, autoridades e veículos, quem fez tudo fui eu, sozinha. E, naturalmente, arquei com todas as conseqüências.


Não digo que foram más de todo porque o Pais ganhou a Abertura Democrática (como o Jornal do Brasil, afirmou em editorial), mas a Direita, injustamente, me viu como agente da derrota que sofreu. O próprio Nestor Jost me disse que eu tinha sido culpada de sua derrota ao Senado...


O episódio inicia quando eu, presidente do Clube dos Repórteres Políticos, achei que podia ser feito um debate como o que tinha acontecido na França, se não me engano entre Chirac e seu adversário. Antes tinha havido o do Kennedy, nos Estados Unidos (desculpe a falta dos nomes, só lembro que idéia nasceu de uma lida na revista Paris-Match!) e me empolguei...

Levei o assunto e os colegas, embora céticos, toparam apoiar e, realmente, fizemos várias reuniões para troca de idéias, tendo recebido nestes ocasiões todo o apoio deles.

Assim iniciei as negociações,entrando primeiro em contato com os presidentes dos partidos: Pedro Simon e João Dêntice. Evidentemente, Simon se empolgou e o dr.Dêntice,bastante cauteloso,pela responsabilidade do momento,me dava sua ajuda, mas sempre,me lembrando se eu "tinha consciência de todos os riscos".

O Ministro da Justiça, Armando Falcão mandou perguntar a ele quem eu era e se estava certo da integridade profissional.


Com o sim de ambos os lados, fui à luta por espaço na televisão, não havia forma de conseguir, por uma razão ou outra. Naquele momento tudo era suspeito, tudo difícil,ainda mais alguma coisa que nunca tinha sido feita, nem o pessoal da mídia conhecia os casos que levaram à inspiração...

Bem, um dia, já um pouco entregue,já desistindo (dias antes Pedro Simon me havia entregue uma carta que a TV Difusora enviara para ele, acusando-me ? eu tenha esta carta ) encontrei no final da tarde,quando ia da Assembléia para a Zero Hora com Simon que me perguntou a respeito e para quem revelei meu desânimo.Ele me disse:não te entrega, vais agora à Zero Hora, mas antes de ires para a redação vai direto ao gabinete do Maurício e fala com ele.Tenho certeza que consegues.

Fiz isto. Cheguei tão nervosa que o Mauricio, mandando sentar, me ofereceu um uísque, agradeci,dizendo que tinha de trabalhar e nessas ocasiões não bebia.


- Bem, então o que queres?
- Contei os meus planos e as dificuldades (não falei na carta da Difusora!) Ele então me disse: tens meu apoio: que horário queres que tempo queres?
-Já meio descontraída, pedi um horário nobre, entre as novelas e ele, pegando no telefone disse ao Clovis Prates (um mineiro que era Direto de Programação) marca aí dia, um debate entre Nestor Jost e Paulo Brossard.
- Que mais tu queres?
- Olha, eu sonhava com uma cadeia de televisão, mas...
- Espera aí: ligou para o Canal 5 (Associados) e fechou na mesma hora todos os acertos.


Saí exultante e aí o assunto ganhou todos os espaços. Para teres uma idéia da importância deste encontro estiveram no estúdio do Canal 12, editorialistas, diretores, jornalistas de todos os jornais de Rio, São Paulo, Brasília, Minas, do Brasil todo. Foi um grande acontecimento e o tempo, que se tinha combinado, de 45 minutos, se estendeu por duas horas e meia e o público ligando pedindo que deixasse continuar.


Acho que o Brasil foi outro depois daquele momento, em tudo e por tudo. A impressão é de que o medo foi dissipado. Realmente a Abertura iniciou.


Em um segundo tempo, surgiu vários pais da idéia e eu me vi, com a chegada do Carlos Fehlberg(que nessa ocasião era assessor de comunicação do Médici e voltava à redação de Zero Hora como Editor Político acossada e constrangida,com vários acontecimentos inexplicáveis (Tenho aqui em casa,um recorte do jornal Zero Hora que os colegas colocaram no mural de um artigo que escrevi no Diário de Notícias, quando voltei (por um breve tempo) para ser Editora de Política).Sem mais Maurício para me dar respaldo, mandei um bilhete para o Lauro Schirmer por um boy da Assembléia me desligando do jornal.

O moderador - aquele que apenas controlava o tempo de cada um, sem nenhuma interferência pessoal, foi o jornalista Joseph Zukauskas. Queriam que fosse eu, mas entendi que eu deveria ficar na coordenação dos detalhes e o Zukauskas tinha uma bela presença no vídeo. Trabalhava no JB, tinha bom nome como jornalista sério e imparcial... etc.


No auditório da TV Gaúcha, estavam políticos, especialmente convidados pelas direções partidárias, jornalistas de Porto Alegre - toda direção do Clube dos Repórteres Políticos - e os jornalista do resto do Brasil. Eu fiquei na suíte, junto com o Clovis Prates, observando o todo.

Depois disso, eu lembro, escrevi algo em Zero Hora sobre o episódio, a pedido do Lauro Schirmer, que não chegou a um texto brilhante pelo nervosismo e a emoção (eu tinha consciência do que aquele momento representava para a Nação).


O ambiente era de euforia, o público respondia com entusiasmo e o telefone, que tocava sem parar, traduzia isto, todos pedindo que o debate continuasse. Não tinha como, já havia alcançado uma duração de duas horas e meia... Brasília manteve-se todo o tempo informado sobre tudo.


A repercussão no centro do Brasil foi multiplicada por ações, discursos, atitudes, editoriais... parece que até hoje não parou!

Uma busca nos jornais da época diz de tudo isto e os políticos como Pedro Simon, Paulo Brossard e tantos que ainda hoje vivem tem, certamente detalhes, que são aqueles que a percepção de cada um dá.
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O atual jornalismo político,

segundo Ione Vieira


O jornalismo político perdeu sua essência, até porque ninguém mais faz carreira partidária. O jornalista que atua nesta área tem de sempre avaliar a atitude do indivíduo e nunca pode vê-lo como uma entidade. São vozes, subornadas a interesses particulares, ou por vaidade ou dinheiro. O lenço no pescoço já não identifica mais. Como diria um grande filósofo francês, Ariel: antes de todo crime procura-se corromper a consciência. E foi o que aconteceu com todo o nosso sistema, em minha opinião. Sem ela, todos nos sabemos, nada existe de puro...

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domingo, setembro 03, 2006







Como é longe Uruguaiana

Por Evilazio de Oliveira


Numa época ainda recente, as viagens de Uruguaiana para Porto Alegre se constituíam em operações que precisavam ser planejadas com antecedência, sem esquecer detalhes como o de combinar previamente com o motorista de um auto de praça a condução dos passageiros, ainda de madrugada, para a estação do trem.

Pois, todos esses preparativos e uma viagem inesquecível, vistos pelos olhos de um menino, são contados no livro Como é longe Uruguaiana, de Fernando Pereira da Silva Filho, um cirurgião-dentista uruguaianense que adora escrever e que teve as duas pequenas edições esgotadas. Hoje, quem não leu o livro e só ouviu falar, pode perder as esperanças de encontrar algum exemplar à venda. A obra está totalmente esgotada.

Como é longe Uruguaiana é um desses livros fáceis de ler, com uma linguagem simples, direta e que transmite os acontecimentos daquela viagem de trem, uma aventura inesquecível para o autor, ainda criança que observava tudo, com muita atenção.


Fernando Pereira da Silva Filho conta que sempre gostou de escrever. Além de crônicas e artigos publicados pela imprensa de Uruguaiana e da capital, ele já havia estreado na literatura com A Colônia Rizícola que eu vi... e vivi, em 2001 - ano 155 de emancipação do município de Uruguaiana - conforme assinala no livro. Trata-se de um relato sobre a Colônia Rizícola 2, a CR2, implantado pelo Irga (Instituto Rio-grandense do Arroz) na década de 40 e que teve grande importância no desenvolvimento do município.
O autor de Como é longe... chegou a ser consultado sobre a possibilidade de a obra servir de roteiro para um filme. O assunto, todavia, não prosperou. Hoje o livro é uma obra rara e embora pense numa terceira edição, existe a falta de patrocínio ou de uma editora interessada. Enquanto isso, o escriba finaliza um romance ambientado no Japeju. Trata-se de uma história de amor, ainda sem nome, e que também não data para o lançamento. Novamente, problemas de patrocínio para a edição. *

 


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